Não me resumo à ninguém.

Pergunto, grito e depois me arrependo. Será que sou assim porque vejo tudo afundar? Tento me esconder das coisas ruins, mas quando mais fujo da sala para a cozinha, mais gritam perto do meu quarto.

meu quarto, minha casa.

minha varanda, minha escova de cabelo, minhas canetas e meus toques.

até agora acho que vivo num mundo onde penso que as coisas são minhas mas me perco cada vez que seguro elas com força. com medo de que vão embora. de que acabem rápido. de que não se cuidem e não me deixam cuidar delas.

enterrei um sonho tão grande que às vezes que esqueço que ele estava aqui. e sinto que não posso falar sobre isso com mais ninguém. Não digo mais quando escrevo, e quando penso em escrever me perguntam sempre o porquê disso ou aquilo. E me deixa cansada. Só quero sentir e não explicar.

Eu realmente queria ter sido colunista. Trabalhar em um jornal, viver de forma intensamente em uma capital onde ninguém conhece meu nome, essa ‘eu’ com 15 anos ainda existe em forma de saias pretas, quarto escuro, músicas que achava que ninguém conhecia e a cor azul.

Hoje, na crise dos 20 me pergunto de novo se sigo os meus sonhos ou morro fazendo pelos outros o que deveria fazer por mim.

Grito com meus pais constantemente. O motivo vaga entre os blocos do nada, da infidelidade, da burrice da paciência.

Ouço da pessoa que eu mais prestigio no mundo que não é assim que as coisas possam ser. Acho que ele nunca vai entender. Sou uma garota, as coisas ocorrem de forma diferente por aqui. Talvez alguém entenda.

Queria ter tido uma família melhor. Com pais que não se aproveitassem de mim e de cada margem de erro do futuro que é planejado para eles, e nunca pra mim. Alguém se importa com isso? eu também queria viver minha vida.

Transformo qualquer ponto de luz em uma cratera de incertezas porque minhas motivações saíram de sentimentos para conta bancária, se alguém entender o que isso possa dizer sobre mim.

Me encontro em pequenas partes e acho que sempre ou lamentar pela infância ter acabado, e sempre ou agradecer por Mulherzinhas existir. Vagueio entre as portas de casa que costumam guardar segredo sobre o que acontece dentro, e quando passo por elas sinto um olhar de julgamento. Pensei que objetos não detinham sentimentos até ver um apartamento tão deprimente e sufocante numa avenida bonita da cidade.

Não entendo e nunca entenderei porquê vim a esse mundo. As coisas são ruins demais e não posso ter controle por nada. E mesmo se tivesse, a preguiça instalada em mim se torna mais grande que tudo. Me lembram meus dias mais sombrios.

Portanto, até onde eu puder ser eu, conquistar as coisas que quero dentro de um espaço-tempo-que-ninguém-respeita existir, vou continuar aqui.

Deixe um comentário