Se envolver com meus pedaços

Acho que é bem fácil fingir que não me conhece quando me vê de cabelo limpo.

(isto é, do jeito que ele fica bagunçado o suficiente pra você me fazer notar o quanto eu não cuido do mesmo, apesar de toda atenção do meu alter ego se basear nele)

sendo um pouco mais objetiva – e talvez até mais piega -, é bem fácil olhar dentro dos meus olhos enquanto caminho pra casa depois da aula e descobrir quem eu sou, do que uma madrugada inteira de conversa comigo pode oferecer.

até mesmo as risadas de embriaguez não mostram todo o pedaço de humor questionável que se reúne em alguém com problemas de segurança, entendo todo mundo que coloca a mão na boca quando não dá pra segurar o riso.

enfim, não é nada, sabe.

pareço uma menina de 15 anos com medo do futuro novamente, mas desta vez tenho 20 e gosto dos romance da Jane Austen (isso implica mais na psicologia do que se pode imaginar)

o cabelo liso, a maquiagem natural, o protetor labial com um tom rosado, as pesquisas minuciosas sobre algo que eu não sei no meio de um monólogo porque, é claro, odeio ferir meu ego

tudo isso se desenvolve em uma capa protetora. é o começo que você tem para se ter a parte mais dura de mim, pois tudo isso virou uma casca para meus desleixos superficiais de jovem

repito livros e frases que sempre achei adoráveis.

gosto de ter ideias e odeio desistir delas 2 minutos depois.

reclamo de sempre conhecer as mesmas pessoas, mas passar meu número pra algum garoto bonito já é demais, desafios são interessantes, embora clichês tenham um lugar especial no meu coração.

hoje, mandei meu novo número pra um garoto que conheci no shopping (no dia mais carente do ano, inclusive; menos comigo, esse tipo de coisa não me atinge)

percebi que ele só tinha me visto de maquiagem, com cabelo liso, meu melhor vestido e cheia de dose de confiança.

então senti medo do bloqueio, afinal eu não sou incrível e inalcançável a todo momento.

(essa é a hora que alguém fala ‘ow, onde foi parar sua insegurança nessa frase?’, eu vivo de momentos, me dá um tempo)

isso só me fez perceber o quanto medo tenho enraizado em meus próprios dedos. O quanto minhas mãos parecem acabadas e enormes; o quanto minhas pernas detém de inúmeras cicatrizes e de um passo torto que acaba virando minha marca.

ele só me conhece parada. buscando a perfeição. com conversas inteligentes.

e não os vídeos aleatórios e os poros abertos.

não meus gritos com meus pais. não me choro de desculpas e nem o meu desleixo diário.

é bem fácil me dar um bloqueio tanto na vida real quanto online.

me pergunto se tudo o que eu sou se tornou uma mentira memorável, às vezes meu alter ego se torna forte demais.

então, se me vê na rua com o cabelo amarrado, evite de falar comigo.

eu só queria me envolver mais na minha própria vida sem ser um personagem

queria juntar todos os meus pedaços para saber do que sou capaz de fazer.

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