Frances Ha – onde a minha vida começa

Apreciar não só a beleza relativamente mediana de Adam Driver mas também os cenários confortantes de Nova York em preto e branco são razões mais que necessárias para assistir Frances Ha (2012), na Netflix.

Não sei como comecei com o pé atrás com o filme apenas com a sinopse; não é a primeira vez que acontece isso. Ao longo do drama, descobri mais de mim mesma com a protagonista do que sobre ela. É poesia sem ser poético sobre solidão. Sobre ser adulto.

Tudo o que mais tenho ouvido em cada fase da minha vida é sobre tempo; envelhecer, morrer, se atrasar, se adiantar. Um botão no meu braço pra dar pausa quando tudo estiver me sufocando não seria uma má ideia. Infelizmente, não faço contato direto com Deus.

Frances é uma dançarina aprendiz que mora com a melhor amiga em NY. É bizarro como sinto que vou ser desse jeito pelo resto da minha vida (não a dançarina), mas sempre numa posição em que eu esteja aprendendo de tudo o mais distante possível e nunca saia dali. Fazendo o que gosto, ganhando pouco pra viver. O maior medo do recém adulto de classe média é a estabilidade. No entanto, sonhar alto não é nenhum crime.

Sou aprendiz incessante do meu próprio corpo,. Busco minhas próprias paredes e tenho medo de nunca conseguir um lugar na companhia principal. Viver sob a própria vida parecer estar tão distante que tenho medo de um dia passar o final de semana com meus pais e querer voltar.

Frances conseguiu conquistar seu próprio lugar com orgulho, desdém e alguns cigarros. Não é fácil de nenhum jeito, e acho que não posso culpar um personagem de agir exatamente como eu, só que sem culpa. Deitar na cama da minha melhor amiga e reclamar o quanto estou bêbada parece ser encaixar mais comigo do que uma trajetória com um final emocionante e inspirador.

Esse filme me faz pensar que talvez tudo bem passar um final de semana em Paris com o cartão de crédito, mas sou sempre eu que vou sofrer as consequências. O jeito como ela lida com ciclos fechados (o término do namoro, por exemplo) é mais convincente do que parece. Não existe tanto luto e isso não apaga o lugar da dor. A dor está ali. Ela apenas tem 27 anos e talvez seja mais fácil lidar quando sua carreira depende de seu esforço e concentração, quando você vê na verdade que não tem pra onde ir e puxar por mais tempo não ajuda em nada. Pegar o casaco e dizer “vou pra casa, eu acho” depois de dar os ombros sentindo muito é muito mais real que fingir um acidente (referências), e talvez seja por aqui que quero de verdade começar.

Durante esse texto esqueci várias coisas sobre o que falar de solidão. Só tenho, de fato, a lembrar que existe muito mais paredes e pessoas para dizer sinto muito do que realmente penso. É só nisso que se baseia nossa vida: liberdade. De conhecer mais pessoas, de beber mais vezes, de sair da casa dos pais e voltar nos feriados, de empregos e carreiras que aceitam aprendizes e os levam adiante.

quero muito mais que liberdade de estourar meu cartão de crédito e ficar com raiva de mim mesma por ignorar as consequências. quero ter mais medo da vida e mais coragem. só a liberdade não basta.

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