sinto que a qualquer momento entre domingo e segunda meu corpo pode virar pó ou uma pedra de gelo em alguns segundos.
isso não acontece pelo melodrama adolescente que faz parte da vida de (quase) todo mundo.
vejo minha sombra andar pelas avenidas estranhas que jamais andei antes e o seu desespero ao pensar nunca vai saber o lugar dela. nunca. nunca. nunca.
mas não é como se eu fosse a primeira pessoa que antes dos vintes aos anos não desse importância ao próprio nome. Quando lembro que existo ouço uma ambulância de longe, me dando um aviso.
nem só de morbidez meu corpo se alimenta; a luz do sol de todos esses dias, me deixando vermelha o suficiente para sentir um pouco de calor, de ardência, vem com uma sensação de liberdade.
não sei quem eu sou agora e quem eu nunca vou ser.
posso afirmar com a maior certeza do mundo que não estou dando meu melhor.
tem que ser tão difícil controlar a própria máquina que vive na minha cabeça como um monstro que nunca me deixe dormir sem nenhum arrependimento ao longo do dia?
A realidade moldou monstros que eram a razão do meu viver dois anos atrás, um dos meus únicos sorrisos do dia.
não sinto falta de quem corre das suas próprias correntes só pra dois minutos de diversão comigo, ou de ser essas correntes.
sinto falta de ser viva. de sentir meus pés no chão. de chorar de alívio.
não do desespero e mentiras. não da privação.
sinto falta da minha respiração.
e de não chamar a ambulância toda vez que lembrasse quem eu realmente sou:
nada.